A História do Diabetes
A História do diabetes é extremamente rica e plena de fatos importantes e curiosos. Datado de 1550 A.C, chamado Papiro de Ebers é o primeiro documento conhecido a fazer referência a uma doença que se caracterizava por emissão frequente e abundante de urina, sugerindo até alguns tratamentos à base de frutos e plantas. Entretanto, apenas no século II D.C. , na Grécia antiga, é que esta enfermidade recebeu o nome de diabetes, que significa “passar através de um sifão” e explica-se pelo fato de quea diurese excessiva, que caracterizava a doença, assemelhava-se à drenagem de água através de um sifão. Mais adiante, entre os séculos V e VI, médicos indianos teriam sido os primeiros a detectar a doçura da urina de pacientes com diabetes. No Século XVII, o inglês Thomas Willis (1621-1675) provou efetivamente a urina de um paciente diabético e referiu que era “doce como o mel”. No Século XVIII, Matthew Dobson (1732-1784) aqueceu a urina de um paciente diabético até o ressecamento e notou a formação de um resíduo açucarado. Foi Willian Cullen (1709-1790), também no século XVIII, que sugeriu o termo “mellitus” (mel em latim), diferenciando os tipos de diabetes em diabetes mellitus e diabetes insipidus (esta, outra doença que nada tem haver com o açúcar no sangue).
O diabetes foi reconhecido como uma entidade clínica em 1812, quando foi fundado o "New England Journal of Medicine and Surgery" (uma publicação científica da área da medicina). A frequência em que a doença ocorria na população não foi documentada naquela época e não se sabia essencialmente nada a respeito das alterações que a doença causava no corpo huma. Não havia tratamento efetivo disponível e a doença era fatal dentro de semanas a meses após o diagnóstico. O primeiro avanço no tratamento surgiu com a ideia de que deveria haver uma restrição ao consumo de carboidratos. Apollinaire Bouchardat (1809 – 1886) observou que durante o período de racionamento alimentar devido ao cerco da Prússia (atual Alemanha) a Paris em 1870, durante a guerra Franco-Prussiana, houve o desaparecimento da glicosúria em alguns pacientes. Desde esta época, verificou-se a grande dificuldade que tinham os pacientes diabéticos em seguir a dieta. O médico alemão Bernard Naunyn (1839-1925) chegava a trancar seus pacientes em quartos por até 5 meses, a fim de obter urina livre de açúcar. Em 1889, os alemães Oskar Minkowski (1858-1931) e Joseph Von Mering (1849-1908) removeram o pâncreas de cães, resultando em diabetes fatal.
Frederick Banting (1891 – 1941), que trabalhava no isolamento da secreção interna pancreática no laboratório de Fisiologia da Universidade de Toronto. conseguiu a reversão do diabetes em cães através de um extrato do pâncreas de cães saudáveis. O sucesso de Banting com experimentos animais, encorajou o inicio de experimentos com humanos. O primeiro ser humano a submeter-se a tais experimentos foi Leonard Thompsom em janeiro de 1922. A substância administrada foi nomeada de insulina. Banting e seu chefe de laboratório, John Macleod (1876 – 1935), receberam o prêmio Nobel de medicina em 1923. Um grande avanço ocorreu a partir da descoberta da estrutura exata de aminoácidos a insulina pelo bioquímico inglês Frederick Sanger (1918 – 2013), pois permitiu a produção de uma insulina humana, abandonando-se aos poucos as insulinas animais.
O primeiro glicosímetro (medidor de glicose) surgiu em 1970, denominado Ames Reflectance meter (ARM). Ele pesava 1,2Kg e custava cerca de U$ 495, sendo disponível apenas em clínicas e hospitais. Em 1972, foi lançado o glicosímetro Eyetone®, por uma empresa japonesa, sendo menor e mais leve, além de bem mais barato. Os anos 1980 assistiram uma grande evolução nos glicosímetros, os quais estavam ficando cada vez menores, com mostrador digital, mais fáceis de usar e, frequentemente, vinham com memórias para armazenar os resultados. Já no século XXI, a Abbott® lançou o Freestyle Libre® que trata-se de um sensor, com duração de 14 dias, que faz os testes de glicemia sem a necessidade de furar o dedo.
Desde o início da descoberta do diabetes, já era notável que haviam casos mais brandos, com evolução mais insidiosa. Inicialmente, todas as atenções estavam voltadas para os pacientes que apresentavam um quadro mais grave. A partir da descoberta da insulina, ficava cada vez mais claro que muitos pacientes talvez nem necessitassem da insulina, alguns conseguiam um controle razoável apenas com dieta e exercícios físicos. Em 1944, O médico francês Auguste Louis Loubatières (1912-1977) constatou que inúmeros pacientes tratados para a Febre Tifoide com o derivado sulfonamídico isopropiltiadiazol vinham a óbito por hipoglicemia prolongada. A partir dessa observação, houve grande avanço nas pesquisas e em 1955 foi lançado o primeiro medicamento oral para o tratamento do diabetes, desde então vários outros medicamentos foram lançados, com mecanismos de ação cada vez mais modernos.
Estudos marcantes para o tratamento do diabetes, principalmente a partir dos anos 1980, trouxeram a ideia de que o controle intensivo da glicose traz resultados impactantes na mortalidade da doença. Apesar de todo o avanço tecnológico das últimas décadas, ainda não se consegue um bom controle glicêmico da maioria dos pacientes. Segundo um estudo brasileiro, realizado em 2011 com pacientes diabéticos, no período de um ano, no grupo geral de diabéticos que realizou pelo menos duas medidas da hemoglobina glicada (exame que demonstra o controle do diabetes), nenhum manteve todas as medidas dentro da faixa da normalidade durante o período avaliado, sendo que 28,9% apresentaram pelo menos uma medida normal e 71,1% apresentaram todas as medidas acima do limite da normalidade.
Ao longo de toda a história nunca os avanços tecnológicos relacionados ao diabetes evoluíram com tanta celeridade. Empresas de tecnologia estão se aventurando no mercado de diagnóstico e tratamento, objetivando mais eficácia e precisão no manejo terapêutico e maior conforto para os pacientes. Muitas inovações estão surgindo e muitas outras prometem surgir em um futuro bastante próximo.