Por que temos mais diabéticos hoje?

 

   

   Hoje, vivemos em um paradoxo alimentar: enquanto no passado a escassez de alimentos era uma ameaça à sobrevivência, atualmente enfrentamos o problema oposto — a abundância de comida está diretamente relacionada ao aumento das taxas de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes tipo 2, a hipertensão arterial e suas consequências devastadoras, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

   Essa realidade contradiz previsões históricas, como as do economista inglês Thomas Malthus no século XIX. Ele acreditava que a população cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos seguiria apenas em progressão aritmética. A conclusão? Fome e guerra seriam inevitáveis. Porém, o tempo mostrou que Malthus estava errado. A revolução agrícola e o avanço tecnológico possibilitaram uma produção de alimentos muito maior do que ele poderia imaginar.

   Essa abundância, no entanto, trouxe um problema inesperado: o excesso. O acesso facilitado a alimentos ultraprocessados, ricos em calorias, açúcar e gorduras, aliado a porções cada vez maiores, tem levado ao consumo excessivo. Um exemplo interessante dessa evolução cultural foi revelado em um estudo da Universidade de Cornell e publicada no periódico especializado International Journal of Obesity, que analisou 52 pinturas da “Santa Ceia” ao longo dos séculos. Comparando as proporções entre os pratos e as cabeças dos apóstolos nas pinturas, o estudo demonstrou que os pratos ficaram progressivamente maiores ao longo do tempo, simbolizando o aumento das porções e do consumo.

   Esse cenário é alarmante. O excesso de peso, fruto do consumo desmedido, é o principal fator de risco para o diabetes tipo 2. Além disso, a hipertensão, muitas vezes associada ao ganho de peso, acelera o desenvolvimento de complicações cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC.

Essas doenças crônicas não transmissíveis representam a principal causa de morte no mundo. Elas não apenas reduzem a qualidade e a expectativa de vida, mas também geram um enorme impacto econômico, tanto para o sistema de saúde quanto para as famílias afetadas.

   Portanto, enquanto Malthus previu a fome, o verdadeiro desafio do século XXI é encontrar o equilíbrio em um mundo de excessos. Isso exige conscientização, mudanças no estilo de vida.. Afinal, o que está em jogo não é apenas o peso corporal, mas a saúde e a longevidade de milhões de pessoas.